Armas de delegacia de BH desviadas por servidora para facções criminosas: o que se sabe sobre o caso
11/11/2025
(Foto: Reprodução) Servidora é presa suspeita de desviar mais de 200 armas de delegacia no Barreiro
A Polícia Civil de Minas Gerais descobriu o desaparecimento de cerca de 220 armas de fogo que estavam sob guarda da instituição após um suspeito ser flagrado portando um armamento que já havia sido apreendido anteriormente.
Uma servidora, Vanessa de Lima Figueiredo, suspeita de envolvimento com o caso, foi presa neste domingo (9). De acordo com a investigação, ela comprou dois carros de luxo e fez procedimentos estéticos com o dinheiro. Nesta terça-feira (11), a Justiça decidiu manter a prisão de Vanessa.
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As investigações apontam que parte do armamento desaparecido foi vendido para facções criminosas, como o Terceiro Comando Puro (TCP) e outras organizações da capital mineira e do entorno.
🔎 O TCP é uma facção criminosa que surgiu no Rio de Janeiro como uma dissidência do Comando Vermelho, após disputas internas. Em BH, a organização tem forte atuação na Cabana do Pai Tomás, comunidade vizinha à delegacia onde os furtos aconteceram.
Veja o que se sabe sobre o caso a partir dos pontos abaixo:
O que é investigado?
Quem é a suspeita?
Como a polícia descobriu o esquema?
Qual é o cargo da servidora e como ela agia?
O que diz o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil?
O que diz a defesa da suspeita?
O que é investigado?
A Polícia Civil de Minas Gerais apura um suposto esquema de desvio de armas de fogo por parte de servidores lotados na 1ª Delegacia do Barreiro, no bairro Jardinópolis, em Belo Horizonte.
De acordo com interlocutores ligados à polícia e ouvidos pelo g1, as armas haviam sido apreendidas em ocorrências diversas e foram sendo subtraídas aos poucos ao longo dos últimos meses. Foram contabilizados 220 artefatos.
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As 220 armas sob responsabilidade da unidade policial haviam sido apreendidas em operações e estavam sob guarda da delegacia. A Polícia Civil informou que a investigação da Corregedoria sobre o caso está em "estágio avançado" e que se tratam de armas de baixo calibre e algumas até obsoletas.
Quem é a suspeita?
Vanessa de Lima Figueiredo tem 44 anos e é natural da capital mineira. Servidora concursada do estado, ela foi nomeada para o cargo de analista da Polícia Civil em julho de 2014.
Segundo publicações do Diário Oficial de MG, Vanessa Figueiredo passou por delegacias de Divinópolis, no Centro-Oeste do estado, e também atuou no Departamento De Trânsito De Minas Gerais (Detran-MG). Em 2020, ela foi transferida para a delegacia do Barreiro.
Em uma rede social, ela diz que trabalha como escrivã de polícia e que, entre 2002 e 2005, cursou fisioterapia em uma faculdade de BH. De acordo com o Portal da Transparência, Vanessa recebeu um salário bruto de R$ 7,5 mil em setembro deste ano.
Vanessa de Lima Figueiredo
Reprodução
Como a polícia descobriu o esquema?
De acordo com as informações, o suposto esquema foi identificado durante uma ocorrência de rotina registrada em Contagem, na Grande BH.
Ao registrar a apreensão de uma arma, policiais constataram no sistema que o mesmo artefato já constava como confiscado em outra investigação e deveria estar armazenado nas dependências da delegacia. A checagem do acervo revelou que outros armamentos também haviam desaparecido.
A Corregedoria da Polícia Civil conduz a investigação e informou que o procedimento está em “estágio avançado”.
Em vídeo divulgado à imprensa, o delegado-geral da instituição, Rômulo Dias, afirmou que "a Polícia Civil reforça seu compromisso com a transparência e responsabilidade e o rigor na apuração dos fatos, reafirmando seu compromisso com a preservação da legalidade e da confiança da sociedade".
Qual é o cargo da servidora e como ela agia?
Ainda segundo a polícia, foi feita uma checagem do acervo da delegacia, que apontou a ausência de diversos artefatos sob custódia. Segundo a polícia, o material extraviado inclui armas de baixo calibre, muitas delas consideradas obsoletas.
Há a suspeita, ainda, de que ela revendia as armas para integrantes de facções criminosas. A mulher foi inicialmente aprovada para o concurso da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (Seplag) e transferida para a polícia, onde atuava como analista.
De acordo com interlocutores ligados à Polícia Civil, a mulher foi flagrada por câmeras de segurança retirando armamentos do local. As imagens, segundo as fontes, estão sob análise da Corregedoria, mas não foram divulgadas.
Ainda de acordo com esses interlocutores, a mulher havia comprado dois carros de alto padrão e feito procedimentos estéticos com o dinheiro dos crimes. No local da prisão, havia um cofre onde os policiais localizaram invólucros da perícia.
A suspeita foi encaminhada para o Presídio Feminino José Abranches Gonçalves, em Ribeirão das Neves, na Grande BH.
O que diz o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil?
O Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol) atribui o caso à ausência das Centrais de Cadeia de Custódia no estado.
Essas estruturas foram previstas na Lei nº 13.964, de 2019, o chamado “Pacote Anticrime”, e deveriam concentrar todos os materiais apreendidos pelas forças de segurança.
Segundo o presidente do sindicato, Wemerson Oliveira, a inexistência dessas unidades facilita extravios e dificulta o controle de armas e outros objetos apreendidos.
"Essas armas não deveriam estar armazenadas em delegacias. Até hoje a Polícia Civil não liberou a verba para a construção da central, que ficaria sob responsabilidade do Instituto de Criminalística", afirmou.
O que diz a defesa da suspeita?
Em entrevista à TV Globo, a defesa da investigada disse que a medida cautelar de prisão foi desproporcional e que nada de ilícito foi encontrado durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão.
"A defesa vai pleitear a liberdade provisória da Vanessa, porque entende não haver qualquer indício concreto no inquérito policial, completamente premeditado, que possa ensejar de fato essa prisão preventiva", afirmou o advogado Lucas Furtado.
Sobre as imagens, ele sustentou que os vídeos não mostram nenhum armamento com a servidora.
"No inquérito policial que a defesa teve acesso existia alguns vídeos em, data próxima, que a Vanessa entra e sai com a própria bolsa dela, em alguns momentos que são horários fixos, horário de entrada, horário de saída. É o único tipo de gravação que existe. Não foram identificadas armas durante essa movimentação, tão somente a bolsa dela", completou Furtado.
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